MUNDO SEM CRISTIANISMO









CONCLUSÕES
  1. NEUTRALIDADE DA RELIGIÃO... Religião é uma prática humana, tão neutra quanto qualquer outra. Tão neutra quanto qualquer profissão, qualquer esporte que seja esporte real (boxe, e outras violências não são esportes), tão neutra quanto ser família, executivo, político, ou outras tantas. Quem define se estas práticas são boas e edificantes, ou maléficas são as intenções conscientes ou não, de quem pratica.
  2. COMPOSIÇÃO DAS RELIGIÕES... Toda religião é formada por trigo e joio. Como no cristianismo, Trigo é a banda saudável, pacífica, tranquila, a que dá uma boiada para não ver e nem entrar numa briga; é a parte verdadeiramente religiosa, a que busca agradar a Deus, a que está disposta a dar a outra face, a andar a segunda milha, a que quer aos outros o que gostaria para si. Por outro lado, toda religião também tem o lado maligno, perverso, brigador, este é o lado podre, violento, amargo e está presente em toda religião. Este lado diabólico é quem produz e alimenta a guerra, é o lado que usa a religião para alcançar seus objetivos bélicos, raivosos, egoístas. São e fazem tudo que Jesus não seria ou faria, mas entendem que tudo que são e fazem é para agradar a Jesus. Porém, tendo estes dois lados, as religiões, por vários motivos, são lideradas ou chefiadas pelo joio, principalmente porque o trigo, não gostando de confusão, se cala, se afasta e deixa espaço para o joio ser doente, e adoecer todo e qualquer ambiente que esteja. Assim, a culpa das guerras e aflições no mundo, não é das religiões, mas do joio que compõe toda religião, e o silêncio do trigo ante as iniciativas violentas do joio.
  3. A VERDADEIRA CAUSA NÃO É RELIGIÃO... Brilhantemente, num dos momentos ímpares de Paulo, a Bíblia afirma contundentemente que a verdadeira causa para a existência de tantos males na humanidade, inclusive a guerra e seus desastrosos resultados, não é a religião... Na verdade a verdadeira e poderosa causa de todos os males é o amor ao dinheiro, é a prioridade ao lucro, ao ganho, à ganância, ao capital, é a prioridade ao capitalismo que, de uma forma ou outra, sempre esteve presente na história da humanidade, enriquecendo os violentos e astutos, e violentando e explorando de muitas formas, a grande maioria das pessoas. O capitalismo em todos os seus níveis já matou e tem matado mais pessoas que tudo e qualquer coisa no mundo. A miséria, a fome, as violências em geral estão todos incluídos nas consequências que o capitalismo tem trazido contra a humanidade. Para manter-se no poder, o capitalismo compra de várias formas, tudo e todos, inclusive a religião, através dos religiosos malignos de cada credo religioso. Estes, diabolicamente, espiritualizam tudo que for necessário para que o maior número de seus rebanhos assumam para si os motivos para qualquer guerra, e se envolvam diretamente, enquanto os verdadeiros beneficiados ficam de lado, esquecidos e até fora dos combates que se fizerem necessários.
  4. ALIENAÇÃO... Depois do amor ao dinheiro, ao lucro, às riquezas e da composição das religiões como principais causas das guerras e intrigas, da ausência de paz em nossos convívios, o terceiro grande causador é a ciência do marketing. Esse é o pior instrumento que é muito usado tanto pela ganância quanto pelo joio religioso para enganar suas vítimas, não só para que pensem que é mínimo o que sofrem  muito, mas para que criem ambiente propícios para, cada vez mais, a exploração, a colonização possa se fortalecer sem que os verdadeiros culpados pelos males no mundo, tenham que aparecer, tenham que ser identificados. O marketing atua em estudos com seres humanos para descobrir como fazê-los guardiões ferrenhos dos interesses dos seus malfeitores, como tomar a frente em proteção aos que lhes fazem mal, aos que lhes exploram. Patriotismo, por exemplo, é uma artimanha do marketing. Em nome do patriotismo um pobre vai à luta, até morre para defender as riquezas e patrimônios dos que fazem as guerras, dos que provocam elas, mas são incapazes de irem a ela. Pelo marketing os pobres explorados ficam e luta, e os ricos vão embora se protegerem em outros lugares. Este é o pior instrumento inimigo que um povo pode ter e está disponível todo o tempo para os gananciosos e os religiosos joio de todas as religiões.





As Testemunhas de Jeová e o Regime Nazista: uma análise das causas ideológicas do conflito

Sumário 



003   Introdução

004   1. O grupo religioso Testemunhas de Jeová
005   1.1 Origem do grupo e primeiras doutrinas
006   1.2 Desenvolvimento e conformação até a posse do Partido Nazista
007   1.3 Doutrinas fundamentais das Testemunhas de Jeová
008   2. O contexto religioso na Alemanha nazista
009   2.1 Desenvolvimento da ideologia nazista 
           022   Extra... Por que Cristãos elegeram Hitler?
010   2.2 O Nazismo como religião 
011   2.3 A Igreja Protestante e o Nazismo
012   2.4 A Igreja Católica e o Nazismo
013   2.5 Grupos religiosos menores 
014   2.5.1 A Igreja de Cristo, Cientista
015   2.5.2 A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias 
016   2.5.3 A Igreja Adventista

017   3. A materialização do conflito ideológico

018   Conclusão 
019   Apêndices
020   1. Cronologia dos acontecimentos na Alemanha 
021   2. As Testemunhas de Jeová no Brasil 

 Anexos... Acesso aqui
1. Declaração dos Fatos... Acesso aqui
2. Publicações que denunciavam as práticas nazistas... Acesso aqui

Referências Bibliográficas... Acesso aqui 
Bibliografia... Acesso aqui


 

CONTEÚDOS EXTRAS
1. Semelhanças entre Bolsonarismo e Nazismo - link
2. Evangélicos garantiram vitória de Hitler na Alemanha - link








HITLER ASSUME O PODER NA ALEMANHA

  1. Hitler venceu as eleições em março, e consolidou seu poder totalitário em junho de 1934, com a execução de vários oficiais que não eram de sua confiança, no episódio que passou para a história com o nome de Noite das Facas Longas, em 30 de junho.

  2. O ex chanceler Schleicher foi executado, assim como Ernst Röhm, ex-chefe da SA, com outras dezenas de oficiais.

  3. O presidente Hindenburg já apresentava a saúde extremamente abalada, e, na prática, tinha pouquíssima influência nos acontecimentos.

  4. Hitler, passando por cima de prescrições legais, fez promulgar uma lei pela qual as funções de Presidente do Reich seriam acrescentadas ao “Führer (condutor) e chanceler do Reich”. (FEST, 2005b, p. 559)

  5. Com o falecimento de Hindenburg, em 2 de agosto de 1934, todo o poder do Estado estava nas mãos de Hitler.

POR QUE CRISTÃOS ELEGERAM HITLER
(parêntese na pesquisa científica, para analisar um texto jornalístico no El País sobre o porque tanta gente acreditou, elegeu e defendeu Hitler com que que todos saibam que ele era e fazia - neste link  /  facebook)

  1. Ao longo da década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levavam a sério.

  2. Ele era conhecido principalmente por seus discursos contra minorias, políticos de esquerda, pacifistas, feministas, gays, elites progressistas, imigrantes, a mídia e a Liga das Nações, precursora das Nações Unidas.

  3. Em 1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, a nova força política dominante no país.

  4. Em janeiro de 1933, ele tornou-se chefe de governo.

  5. Por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo? 



  6. Em primeiro lugar, os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época.

  7. A jovem democracia não trouxera os benefícios que muitos esperavam.

  8. Muitos sentiam raiva das elites tradicionais, cujas políticas tinham causado a pior crise econômica na história do país.

  9. Buscava-se um novo rosto. Um anti-político promoveria mudanças de verdade.

  10. Muitos dos eleitores de Hitler ficaram incomodados com seu radicalismo, mas os partidos estabelecidos não pareciam oferecer boas alternativas. 



  11. Em segundo lugar, Hitler sabia como usar a mídia para seus propósitos.

  12. Contrastando o discurso burocrático da maioria dos outros políticos, Hitler usava um linguajar simples, espalhava fake news, e os jornais adoravam sugerir que muito do que ele dizia era absurdo.

  13. Hitler era politicamente incorreto de propósito, o que o tornava mais autêntico aos olhos dos eleitores.

  14. Cada discurso era um espetáculo.

  15. Diferentemente dos outros políticos, ele foi recebido com aplausos de pé onde quer que fosse, empolgando as multidões.

  16. Como escreveu em seu livro "Minha Luta": Toda propaganda deve ser apresentada em uma forma popular (...), não estar acima das cabeças dos menos intelectuais daqueles a quem é dirigida. (...) A arte da propaganda consiste precisamente em poder despertar a imaginação do público através de um apelo aos seus sentimentos. 




  17. Em terceiro lugar, muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração.

  18. Pessoas religiosas, sobretudo, ficaram horrorizadas com a arte moderna e os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920, época em que as mulheres se tornavam cada vez mais independentes, e a comunidade LGBT em Berlim começava a ganhar visibilidade.

  19. Os conservadores sonhavam com restabelecer a antiga ordem.

  20. Os conselheiros de Hitler eram todos homens heterossexuais brancos.

  21. As mulheres, ele argumentou, deveriam se limitar a administrar a casa e ter filhos.

  22. Homens inseguros podiam, de vez em quando, quebrar vitrines de lojas, cujos donos eram judeus, para reafirmarem sua masculinidade. 




  23. Em quarto lugar, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes – como a de que judeus e gays deveriam ser mortos -, muitos pensavam que ele só queria chocar as pessoas.

  24. Muitos alemães que tinham amigos gays ou judeus votaram em Hitler, confiantes de que ele nunca implementaria suas promessas.

  25. Simplista, inexperiente e muitas vezes tão esdrúxulo, que até mesmo seus concorrentes riam dele, Hitler poderia ser controlado por conselheiros mais experientes, ou ele logo deixaria a política.

  26. Afinal, ele precisava de partidos tradicionais para governar. 




  27. Em quinto, Hitler ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos.

  28. O problema do crime, argumentava, poderia ser resolvido aplicando a pena de morte com mais frequência e aumentando as sentenças de prisão.

  29. Problemas econômicos, segundo ele, eram causados por atores externos e conspiradores comunistas.

  30. Os judeus - que representavam menos de 1% da população total - eram o bode expiatório favorito.

  31. Os alemães "verdadeiros" não deviam se culpar por nada.

  32. Tudo foi embalado em slogans fáceis de lembrar:
    "Alemanha acima de tudo",
    "Renascimento da Alemanha",
    "Um povo, uma nação, um líder." 




  33. Em sexto lugar, as elites logo aderiram a Hitler porque ele prometeu -- e implementou -- um atraente regime clientelista, cleptocrata, que beneficiava grupos de interesses especiais.

  34. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler. 



  35. Em sétimo, mesmo antes da eleição de 1932, falar contra Hitler tornou-se cada vez mais perigoso.

  36. Jovens agressivos, que apoiavam Hitler, ameaçavam os oponentes, limitando-se inicialmente ao abuso verbal, mas logo passando para a violência física.

  37. Muitos alemães que não apoiavam o regime preferiam ficar calados para evitar problemas com os nazistas. 

  38. Doze anos depois, com seis milhões de judeus exterminados e mais de 50 milhões de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial, muitos alemães que votaram em Hitler disseram a si mesmos que não tinham ideia de que ele traria tanta miséria ao mundo.

  39. “Se soubesse que ele mataria pessoas ou invadiria outros países, eu nunca teria votado nele ”, contou-me um amigo da minha família.

  40. “Mas como você pode dizer isso, considerando que Hitler falou publicamente de enforcar criminosos judeus durante a campanha?”, perguntei. “Eu achava que ele era pouco mais que um palhaço, um trapaceiro”, minha avó, cujo irmão morreu na guerra, responderia. 

  41. De fato, uma análise mais objetiva mostra que, justamente quando era mais necessário defender a democracia, os alemães caíram na tentação fácil de um demagogo patético que fornecia uma falsa sensação de segurança e muito poucas propostas concretas de como lidar com os problemas da Alemanha em 1932.

  42. Diferentemente do que se ouve hoje em dia, Hitler não era um gênio.

  43. Não passava de um charlatão oportunista que identificou e explorou uma profunda insegurança na sociedade alemã. 

  44. Hitler não chegou ao poder porque todos os alemães eram nazistas ou anti-semitas, mas porque muitas pessoas razoáveis fizeram vista grossa.

  45. O mal se estabeleceu na vida cotidiana porque as pessoas eram incapazes ou sem vontade de reconhecê-lo ou denunciá-lo, disseminando-se entre os alemães porque o povo estava disposto a minimizá-lo.

  46. Antes de muitos perceberem o que a maquinaria fascista do partido governista estava fazendo, ele já não podia mais ser contido. Era tarde demais.






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2.2 O Nazismo como religião 

  1. Apesar de Hitler ter jurado defender a constituição de Weimar ao ser empossado Chanceler em 30 de janeiro de 1933, inclusive a tese 24 do programa de seu Partido, a política do Terceiro Reich em relação ao relacionamento do Estado com a religião organizada não era clara.

  2. Hitler nasceu e cresceu num lar católico, foi educado numa escola católica, mas questionava os princípios do cristianismo tradicional, que para ele haviam sido corrompidos, em favor de ideias que considerava mais modernas e “positivas”, para usar o mesmo termo da tese 24. 

  3. Conforme ele defendeu no seu livro Mein Kampf, o cristianismo havia sido adulterado pelo “chamado Partido Cristão” que, segundo ele, “se limitava a mendigar votos dos judeus nas eleições, procurando ajeitar combinações políticas com partidos de judeus ateístas e tudo isso em detrimento do próprio caráter nacional”.

  4. Para ele, o verdadeiro cristianismo não era de conciliação, mas de combate. 

  5. Hitler afirmou.... “A grandeza do Cristianismo não está em qualquer tentativa para reconciliar-se com as opiniões semelhantes da filosofia dos antigos, mas na inexorável e fanática proclamação e defesa das suas próprias doutrinas.(...)

  6. O cristianismo não se satisfez em erigir os seus altares, mas viu-se na contingência de proceder à destruição dos altares dos pagãos.

  7. Só essa fanática intolerância tornou possível construir aquela fé adamantina que é a condição essencial de sua existência.” (HITLER, 1941, pp. 293, 333, 421)

O CRISTIANISMO DE HITLER ERA PRA BUSCA DE APOIO

  1. É claro que, de um ponto de vista estritamente político, colocar-se francamente contra o cristianismo num país em que 99% da população professa ser cristã (quer católica, quer protestante), não seria prudente.

  2. Conforme analisa o historiador Lawrence Rees, Hitler simplesmente reconhecia a realidade prática do mundo em que ele habitava.

  3. Ele precisava do máximo de apoio, não importa se de católicos ou protestantes.

  4. Assim, seu relacionamento com o cristianismo, de fato, seu relacionamento com as religiões, era apenas oportunístico.

  5. Conforme Rees, “não há evidência de que ele próprio, em sua vida pessoal, tenha jamais expressado qualquer crença nos princípios básicos da igreja cristã”. (REES, 2013, p. 135)

  6. Seu proposto “cristianismo positivo” visava, portanto, cumprir a delicada tarefa de apresentá-lo como defensor do cristianismo, e, ao mesmo tempo, dar-lhe a flexibilidade de reprimir quaisquer ações das religiões organizadas que não se conciliasse com sua agenda política. (CONWAY, 1968, p. 140)

  7. O cristianismo positivo não visava constituir uma terceira opção, a se juntar (ou opor) ao catolicismo e ao protestantismo.

  8. Ao contrário, seu interesse era prover valores ao redor dos quais os dois grupos majoritários, ou outros, pudessem se alinhar, especificamente, a rejeição aos judeus e sua ideologia (incluindo o Antigo Testamento da Bíblia), a superioridade da raça ariana e o patriotismo como elemento catalisador, independente da profissão de fé. (STEIGMANN-GALL, 2003, p. 15) 

  9. Além deste teor religioso oportunista, Hitler e seus apoiadores buscavam apoio científico, embora de forma tortuosa, na teoria da evolução, de Charles Darwin, na filosofia de Nietzsche e seu Übermensch (além-homem), e no racismo científico de Houston Stewart Chamberlain e Arthur de Gobineau, todas contribuindo para a idealização da superioridade da raça ariana, peça central na proposta nazista. (EVANS, 2010, p. 89)

  10. Assim, conforme ele reiterou várias vezes, o nazismo seria baseado na ciência, e não na fé.

  11. Nas suas palavras, “o dogma do cristianismo desaparece perante os avanços da ciência”. (EVANS, 2013, p. 627) 

  12. Não apenas a tese 24, mas todas as demais, conforme demostrado pela história subsequente, executados como foram pelo Terceiro Reich, trariam consequências desastrosas para milhões de pessoas, dentro e fora da Alemanha. (SHIRER, 1962, p. 75)

  13. Assim, à medida que o partido Nacional Socialista ganhou terreno, as mudanças políticas na Alemanha submeteram todas as religiões a um ambiente completamente novo, no qual, conforme ficou cada vez mais claro, não haveria lugar para uma posição neutra.

  14. Cada questão, mesmo de natureza pessoal, passou a ser encarada de um ponto de vista político – incluindo até as relações matrimoniais. (EVANS, 2013, p. 621) 

  15. Conforme a pesquisadora Christine King “Hitler escreveu muito pouco sobre religião em Mein Kampf e velou suas óbvias suspeitas da Cristandade nas suas declarações sobre o quase místico novo papel da política.

  16. Uma ideologia política, ele afirmou, deve provocar uma reação religiosa e prover ‘ideais elevados, como único fundamento da moralidade para as massas’” (tradução do autor). (1982, p. 2)

  17. A declaração evidentemente indica seu ponto de vista desfavorável à necessidade das religiões formais.

  18. Ele próprio afirma em sua obra Mein Kampf: Partidos políticos não têm nada a ver com problemas religiosos, enquanto esses não são hostis à nação e não corrompam a ética e a moral de sua própria raça. (...)

  19. Para o líder político, as doutrinas e instituições de sua gente deveriam ser sempre invioláveis, do contrário ele deveria ser um reformador, se tivesse condições para tal. (HITLER, 1941, p. 150) Tradução do autor.




  1. Essa atitude em relação à religião formal era, de fato, compartilhada por muitos alemães, apesar da manutenção dos ritos e costumes.

  2. Nos horrores da Primeira Guerra Mundial, os princípios cristãos pareciam não ter tido nenhum significado, uma vez que supostos irmãos de fé matavam-se mutuamente.

  3. O apoio dos líderes religiosos ao nacionalismo em ambos os lados das batalhas pareceu a muitos uma evidência de sua hipocrisia.

  4. Além disso “a incapacidade das igrejas cristãs explicarem por que a religião do Príncipe da Paz (Termo bíblico que ocorre em Isaías 9:6, referindo-se a Jesus Cristo, conforme entendido pelas igrejas cristãs, TRATADOS, 1986, p. 13) não teve poder para evitar a catástrofe dos anos 1914 a 1918 finalmente destruiu as crenças cristãs no coração da geração que observou seus companheiros de fé morrerem tragicamente, na crença de que estavam defendendo a herança cristã de seu país”. (CONWAY, 1968, p. 2).  

  5. Assim, essa falta de clareza no posicionamento do relacionamento do partido com as religiões, bem como sua proposta de um ‘cristianismo positivo’, que, conforme Richard Steigman-Gail (2003, p. 15) tinha a proposta superficial de ‘superar as diferenças confessionais e unir o povo alemão em uma única igreja’, aliado ao vácuo espiritual em que muitos se encontravam, propiciaram um terreno fértil para os ideais nazistas.

  6. Embora Hitler não tenha pretendido ser um reformador religioso – de fato, era indiferente a questões teológicas – ele ofereceu além de uma explicação plausível às dificuldades da Alemanha pós-guerra, um possível caminho à retomada dos anteriores tempos de glória, e o fez numa linguagem emocional e semirreligiosa, com elementos atraentes para religiosos e não religiosos.

  7. Segundo suas próprias palavras, o nacional socialismo se tornaria mais do que uma alternativa política; seria uma forma de conversão, uma nova fé. (RAUSCHNING, 1939, p. 238).  

  8. Algumas ações do Partido materializaram essa pretensão. Até elementos da mitologia teutônica passaram a estar presentes em certas celebrações, atraindo especialmente os mais jovens. 

  9. Apareceram também sincretizados em celebrações de festas religiosas comemoradas pelas igrejas cristãs.

  10. Nos sermões de Natal, por exemplo, eram enfatizadas as práticas dos antigos povos germânicos de se reunirem ao redor de uma árvore, cantarem e trocarem presentes para celebrar o retorno do Sol, depois das longas noites do inverno.

  11. Hitler era apontado como aquele que estava trazendo luz sobre a Alemanha, após o ‘inverno’ no qual ela havia permanecido desde o fim a Primeira Guerra Mundial.

  12. A ele era atribuído o papel ‘messiânico’ de proteger a Alemanha contra o ateísmo comunista e as práticas corruptas atribuídas aos judeus. (CONWAY, 1968, p. 364) 

  13. Os dias santos incluíam a comemoração do aniversário do Führer além do que casamentos e batizados nazistas substituíam os correspondentes religiosos. (Figuras 5, 6 e 7)

  14. Entre os documentos particulares de Himmler foram encontrados fotos de um batismo do filho de um oficial da SS, com uma descrição da cerimônia. A sala decorada com a bandeira nazista, bétulas e candelabros. Ao centro, um altar com a foto emoldurada de Hitler e uma cópia do Mein Kampf. O cenário era complementado pela presença de três homens da SS, o que ficava ao centro portando uma bandeira.

  15. Uma cerimônia fúnebre nazista também foi idealizada, o que causou não poucos conflitos quando jovens membros faleciam, especialmente em cidades menores e mais conservadoras, entre os pais, o clero e os oficiais da SS, quanto a quem determinaria como seria celebrada a cerimônia. (CONWAY, 1968, p. 154)

  16. Sob o comando de Himmler, a SS concebeu também sua nova forma de casamento, onde estavam presentes runas, uma tigela de fogo, símbolos do Sol, tendo ao fundo a música de Richard Wagner, assim como os batismos e altares nazistas (EVANS, 2013, p. 294)


Figuras 5, 6 e 7 - Batizado, casamento e altar nazistas. (CONWAY, 1968, p. 160)


  1. Alguns líderes no Partido eram francamente anticristãos.

  2. Heinrich Himmler, por exemplo, foi grandemente influenciado por Walther Darré que serviu como Ministro da Alimentação e Agricultura do Terceiro Reich, e um dos promotores da doutrina Blut and Boden (Sangue e Solo), cuja ênfase era a valorização da etnicidade e da posse e cultivo do solo, celebrando a relação entre as pessoas e terra que elas ocupam. 

  3. Acreditavam que Jesus não é uma das formas de Deus, mas alguém separado e criado por este. (TRATADOS, 1989, p. 16),

  4. acreditava que os teutões medievais haviam se enfraquecido com a conversão ao cristianismo. Os teutões compunham os povos indo-europeus de fala germânica, que habitavam a Europa Setentrional, cuja conversão ao cristianismo iniciou-se no IV século DC, com o trabalho missionário do bispo Úlfilas, que era godo, de origem. Úlfilas traduziu a Bíblia para o idioma gótico, sistematizando o idioma.

  5. Era partidário do Arianismo, doutrina proposta e defendida por Arius de Alexandria, no Concílio de Niceia, em 325 DC, segundo a qual Cristo não tem a mesma substância de Deus, o Pai, negando assim a doutrina da Trindade. (SAUSSAYE, 1902, p. 115) 

  6. Darré suportava uma retomada dos valores religiosos teutônicos, o que atraiu vários grupos, especialmente de jovens, cuja imaginação era ‘incendiada’ em cerimônias e rituais realizados em florestas, longe dos olhos dos pais.

  7. Conforme descreve Conway, reunidos ao redor de fogueiras nos acampamentos, não era difícil criar um senso de perigo na escuridão ao redor e invocar um senso de união e confraria para defender a nova Alemanha, reforçada pelos ritmos pulsantes dos hinos nazistas. (CONWAY, 1968, p. 152)

  8. O evento público onde a doutrinação de Hitler e do Partido era mais evidente, sem dúvida eram as cerimônias anuais do partido nazista, realizadas em Nuremberg. (Figura 8) Mais de um milhão de pessoas compareciam e esses eventos, como participantes ou observadores. 


    Convenção anual do partido nazista em Nuremberg

  9. Representantes de outros países eram encorajados a enviar suas impressões aos seus conterrâneos. As marchas, hinos, desfiles, todos em ordem absolutamente geométrica e cores impressionantes visavam mais do que impactar profundamente toda a sociedade. Construíam também uma demonstração impressionante da eficiência e do apoio incondicionais de todos os segmentos do governo. Todas as cerimônias tinham uma única figura central: Adolf Hitler. (CONWAY, 1968, p. 140)




  1. Esse aparato mítico-litúrgico propiciado pelo Estado, caracterizava o estabelecimento de uma ‘religião civil’, conforme termo inicialmente usado por Jean Jacques Rousseau. (RIVIÈRE, 1989, p. 143)

  2. Para Rousseau, a religião civil viabilizaria o contrato social, no qual os cidadãos abrem mão de suas liberdades individuais em troca de conquistarem a liberdade civil.

  3. Atuaria como um mecanismo que faz com que os homens se reconheçam como irmãos, impedindo que algo destrua sua sociedade, e que, ao mesmo tempo promova o culto divino à Pátria e às leis.

  4. Assim, uma religião civil seria responsável pela “sacralização” do contrato social, pois ela seria: “uma profissão de fé puramente civil.

  5. "Cujos artigos compete ao soberano fixar, não precisamente como dogmas de religião, mas como sentimentos de sociabilidade, sem os quais é impossível ser bom cidadão ou súdito fiel.

  6. "Sem poder obrigar ninguém a crer neles, pode banir do Estado quem neles não acreditar.

  7. "Pode bani-lo não como ímpio, mas como insociável, como incapaz de amar sinceramente as leis, a justiça, e de imolar em caso de necessidade sua vida a seu dever. Se alguém depois de haver reconhecido publicamente esses mesmos dogmas, comporta-se como se não acreditasse neles, que seja punido de morte, pois cometeu o maior dos crimes: mentiu perante as leis”. (ROUSSEAU, 1973, p. 152)

  8. A demanda pelo envolvimento e dedicação do cidadão nos remete uma das definições mais recentes de Bailey para ‘religião implícita’, a saber: comprometimento.

  9. Segundo ele explica, comprometimento se refere a “toda a hierarquia de camadas de consciência de que, em qualquer determinado exemplo, pode cair dentro do alcance da expressão”, ou seja, ele pode ser a nível consciente ou subconsciente ou ambos. (BAILEY, 2009, p. 802)

  10. Há uma clara semelhança entre o comprometimento dos praticantes de uma religião com seus ritos e crenças, com aquele demonstrado pelos apoiadores de Hitler, durante seu regime.

  11. Ainda Bailey explica que um possível sinônimo para a religião implícita, seria “religião civil” – embora este último tenha, na opinião desse autor, uma abrangência menos compreensiva, por se concentrar principalmente nos ritos e ações seculares, que viabilizam, ou reforçam, o ‘comprometimento’ que ele menciona.

  12. Segundo Bellah, a religião civil refere-se principalmente a um conjunto de valores e símbolos integrados, sustentados em comum por um grupo de pessoas. (NESTI, 2005, p. 4401)

  13. Este conceito é de interesse para este estudo, por serem os ritos do nazismo tão notórios em sua carga de religiosidade e poder de arrebatamento.




  1. Segundo Rivière, a religião civil “supõe em cada povo a existência de uma dimensão religiosa através da qual ele interpreta sua experiência histórica à luz de princípios éticos que o transcendem”. (Rivière, 1988, p.143).

  2. No contexto nazista, é possível identificar claramente vários ingredientes rituais dessa dimensão religiosa.

  3. Além dos já citados: Hitler tocava com suas mãos relíquias sagradas e a seguir tocava a bandeira para comunicar-lhe sacralidade.

  4. Jurava-se sobre o Mein Kampf, exibia-se bandeiras com sangue de mártires.

  5. O crucifixo foi substituído pela foto do Führer. 

  6. Entoavam-se cânticos afirmando que a bandeira, símbolo fundamental de uma nação, era mais forte que a morte – um dado de caráter fortemente religioso.

  7. “Por meio de cada artifício de propaganda ardilosa, o indivíduo era envolto em uma onda de emocionalismo em massa, arquitetada para selar na nação inteira o culto a Hitler, a deidade nazista”, afirma Conway. (CONWAY, 1968, p. 145) 

  8. Por exemplo, Rivière cita uma descrição de Jean-Pierre Sironneau das cerimônias realizadas nos congressos do Partido. Observe-se o forte teor religioso da descrição: 

  9. "No Congresso do Partido em Nuremberg, exibia-se a 'bandeira ensanguentada' manchada pelo sangue dos mártires tombados durante o putsch fracassado de 1923.

  10. Durante a cerimônia dita da 'bênção dos estandartes' no decorrer deste Congresso, Hitler tomava em suas mãos a relíquia sagrada e tocava a nova bandeira como para comunicar-lhe a força mágica do antigo fetiche.

  11. Depois pronunciava o juramento de fidelidade aos mortos enquanto os jovens cantavam: 'Nossa bandeira é mais forte do que a morte ( ... )'.

  12. Em 9 de novembro em Munique, dia do aniversário do putsch de 1923 ( ... ), dois templos da Königsplatz de Munique abrigavam os dezesseis sarcófagos contendo os restos dos primeiros mártires do movimento.

  13. Uma marcha solene foi realizada da Königsplatz até a Feldhermhalle, lugar onde haviam sido desfechados os tiros.

  14. Ali, Hitler subiu os degraus cobertos por um tapete vermelho e, de braço erguido, celebrou o sacrifício perfeito das testemunhas do sangue". (RIVIÈRE, 1989, p. 89) 



  1. Rivière cita ainda outra descrição do ritual nazista, e seu efeito, desta vez citando Robert Brasillhach, testemunha ocular e simpatizante do regime: É noite.

  2. O estádio imenso está iluminado apenas por alguns projetores que permitem imaginar os batalhões compactos das SA vestidos de castanho:

  3. no momento exato em que ele (o Führer) entrou no estádio, mil projetores em torno do recinto iluminaram-se, assestados verticalmente para o céu.

  4. São mil pilares azuis que agora o envolvem, como uma janela misteriosa.

  5. Serão vistos brilhar durante toda a noite, do campo, designam o lugar sagrado do mistério nacional e os organizadores deram a essa assombrosa fantasia o nome de Lichtdom, a catedral da luz.

  6. Eis o homem agora de pé em sua tribuna. Desfraldam-se então as bandeiras. Nem um canto, nem um rufar de tambor... um silêncio sobrenatural e mineral, como o de um espetáculo para astrônomos, num outro planeta.

  7. Sob a abóbada rajada de azul até as nuvens, as grandes vagas vermelhas estão apaziguadas.

  8. Acredito jamais ter visto em minha vida espetáculo mais prodigioso. (Brasillhach pp. 268, apud (RIVIÈRE, 1989, p. 92)) 

  9. A ênfase nesse caráter religioso no regime nazista é feita aqui, porque é possível identificá-lo claramente como uma das diferenças ideológicas fundamentais, que estavam na essência do conflito com as Testemunhas de Jeová.

  10. Conforme abordado no primeiro capítulo, esse caráter tornaria rigorosamente impossível qualquer espécie de compromisso ideológico, já que representaria, para o grupo, uma negação à sua própria religião e fé.

  11. Sua fé e a doutrina nazista, na sua visão, concorrem pelo mesmo espaço.

  12. Não seria possível ser Testemunha de Jeová, e, ao mesmo tempo, adotar uma atitude que não fosse de claro repúdio à proposta religiosa-civil nazista.

  13. Para elas, seriam posições mutuamente excludentes. Ambos demandam um grau de ‘comprometimento’, para usar a definição de Bailey, que não poderia ser compartilhado. Apoiar o nazismo seria, para elas, uma decisão religiosa, não política. (ELIADE, 1999, p. 77) 

  14. Rivière inclusive expõe que esses rituais induziam as massas a um estado quase que de epifania. Segundo ele, “atordoado pelo rufar dos tambores, o compasso das botas, o tinido das armas e a escansão dos slogans, fascinado pelas cores das flâmulas e emblemas, excitado por uma música de metais estridentes, o povo meio em sono hipnótico está então pronto, em unanimidade extática, para deixar-se enfeitiçar pelo mágico supremo. (RIVIÈRE, 1989, p. 93), grifo acrescentado.

  15. Testemunhas oculares da época reiteram esse efeito. Uma delas, George Reuter, afirma em sua biografia: “Não demorou muito para que eu mesmo viesse a participar, levado pelo entusiasmo geral. O ar estava repleto de lemas nacionalistas, tais como: “Hoje, a Alemanha é nossa; amanhã,o mundo todo será nosso”, e: “A bandeira significa mais do que a morte.” Eu, como adolescente crédulo, os aceitava pelo seu valor aparente.” (REUTER, 1990, p. 17)

  16. Outro testemunho da época do poder religioso do partido nazista sobre os cidadãos é de Ludwig Wurn, membro da SS, que relata: Nasci na Áustria, em 1920. Meu pai era luterano, minha mãe católica. Estudei numa escola luterana particular, onde recebi instrução religiosa de um clérigo. Mas não me foi ensinado a respeito de Jesus Cristo como Salvador.

  17. Dava-se constante ênfase a um “führer [líder] enviado por Deus”, Adolf Hitler, e a um proposto Império Pan-Germânico. Meu compêndio mais parecia ser o livro de Hitler Mein Kampf (Minha Luta) do que a Bíblia.

  18. Estudei também o livro de Rosenberg, Der Mythus des 20 Jahrhunderts (O Mito do Século 20), em que ele tentava provar que Jesus Cristo não era judeu, mas sim um loiro ariano! Fiquei convencido de que Adolf Hitler era realmente um enviado de Deus e, em 1933, ingressei orgulhosamente na Juventude Hitlerista.

  19. Pode imaginar aminha emoção ao conhecer Hitler pessoalmente. Até hoje me lembro claramente de como ele me olhou, com aqueles seus olhos descomunalmente penetrantes. Isso teve um efeito tão profundo em mim que, ao chegar em casa, eu disse à minha mãe: “De hoje em diante a minha vida não mais pertence à senhora. Minha vida pertence ao meu führer, Adolf Hitler. Se eu vir alguém tentando matá-lo, eu me jogarei na frente dele para salvar-lhe a vida.” (WURM, 1990, p. 11)






  1. Entretanto, o partido não tinha o propósito de abolir a religião formal instituída – pelo menos não a princípio.

  2. Não passava despercebido, particularmente a Adolf Hitler, a importância numérica da população religiosa na Alemanha.

  3. Conforme mencionado, na década de 30 de cerca de 65.000.000 de alemães, aproximadamente 60.000.000 eram membros registrados em um dos dois maiores grupos religiosos, sendo que cerca de dois terços professavam-se Protestantes.

  4. Naturalmente, Hitler tinha interesse político nessa população religiosa. (CONWAY, 1968, p. 5)

  5. Por exemplo, quando o General Erich von Ludendorff, que creditava também à Igreja Católica o fracasso alemão na Grande Guerra, incitou Hitler a assumir uma posição antirreligiosa mais clara, esse último respondeu que ‘concordava completamente com ele, mas que precisava tanto dos Católicos da Bavária como dos Protestantes da Prússia para a construção de um grande movimento político’. (REES, 2013, p. 135) 

  6. Assim, uma posição ambígua era muito conveniente ao Partido.

  7. Permitia que fizesse uso da relação com as Igrejas para alcançar seus objetivos, e controlá-las no que elas representassem alguma ameaça.

  8. Por sua parte, as duas igrejas maiores também entendiam ter certo poder de negociação. Com a vantagem numérica, seria possível negociar algum tipo de compromisso interessante aos dois lados.

  9. Essa possibilidade era reforçada com o fato de Hitler não ter parecido, em princípio, antirreligioso. Ao contrário, muitos religiosos estavam confiantes nele como um guardião contra as forças anticristãs do comunismo, o que lhes assegurava que o partido nazista tinha um fundamento cristão.

  10. Isso levou um grande número de devotos a dar seu suporte aos ideais nazistas. (CONWAY, 1968, p. 7)

  11. Entretanto, a partir de 1930, com a vitória eleitoral do Partido e a publicação de O Mito do Século XX, pelo editor chefe do jornal do Partido Nazista, Alfred Rosenberg, foi ficando mais claro às igrejas que seu relacionamento com o governo seria muito diferente do que se imaginou a princípio.

  12. Para muitos no Partido, o livro representava uma espécie de manual ideológico do nazismo, embora o próprio Hitler afirmava não tê-lo lido. (CONWAY, 1968, p. 3)

  13. Nele, uma das declarações feita por Rosenberg sobre as igrejas cristãs era a seguinte: Por causa das loucuras dos galileus, nosso estado foi quase arruinado; mas agora, graças aos deuses, ele foi salvo.

  14. Portanto devemos honrar os deuses e todas as cidades em que ainda há piedade. (...) A grande personalidade de Jesus Cristo, independentemente da forma que poderia ter tomado originalmente, foi distorcida e confundida imediatamente após a sua morte, com todo o lixo da vida judaica e africana.

  15. Roma dominava com grande firmeza e exigia impostos de forma eficiente. Assim, entre as suas populações sujeitas, surgiu o desejo de um libertador e líder dos escravos; daí a lenda de Cristo.

  16. Começando na Ásia Menor, este mito Cristo espalhou-se para a Palestina, onde se tornou ligado com os anseios messiânicos dos judeus, e foi finalmente ligado à personalidade de Jesus.

  17. Além de suas próprias declarações, foram falsamente atribuídas a ele as palavras e doutrinas dos profetas do oriente próximo e, ironicamente, na forma de uma extensão de antigos preceitos morais arianos (...), dos quais os judeus já haviam se apropriado como parte de seus dez mandamentos.

  18. Foi dessa forma que a galileia influenciou todo o oriente próximo.(ROSENBERG, 1930, p. 34) 

  19. Vale salientar, porém, que, ainda que visse as religiões majoritárias com interesse e ao mesmo tempo suspeita, o ponto de vista de Hitler era diferente para cada uma delas, e esse ponto de vista influenciou a forma como o relacionamento com elas se conduziria.



  1. Dos católicos Hitler invejava a sólida hierarquia que garantiu sua influência por dois mil anos – para ele muito mais por motivos políticos do que espirituais.

  2. infalibilidade do papa, declarada oficialmente como dogma pelo Concílio Vaticano I, em 1870, lhe era muito atraente.

  3. O apoio do Papa – ou pelo menos seu silêncio – teria para Hitler um peso inestimável. (CONWAY, 1968, pp. 3, 145)

  4. Não obstante, o topo dessa hierarquia ficava em outro país, e em outra pessoa, o que, deste ponto de vista, os tornava rivais.

  5. Por outro lado, os protestantes eram eminentemente alemães, o que os tornava mais acessíveis a seus interesses, e mais de uma vez já haviam atuado como braço do Estado.

  6. Faltava a esse grupo, porém, o que sobrava no anterior.

  7. Os protestantes não tinham uma hierarquia sólida e única. Ao contrário, as disputas internas, rivalidades e divisões, os tornavam algo desprezíveis aos olhos do Führer.

  8. Tudo considerado, porém, os dois grupos tinham elementos que poderiam servir bem aos interesses do Partido.

  9. Com uma mensagem que podia ser vista como um aceno de aprovação às religiões, e por enfatizar os aspectos nacionalistas e de um “cristianismo positivo” em sua ideologia, Católicos e Protestantes poderiam ser persuadidos a auxiliar na ascensão do nazismo.

  10. Ao mesmo tempo, podiam ver no relacionamento com o nazismo oportunidades de negociar sua sobrevivência. (CONWAY, 1968, p. 4)

  11. Os grupos menores, porém, estavam num contexto muito diferente. Primeiro, porque já eram vistos com suspeita, seja pelo Estado, pela população ou pelos líderes das igrejas majoritárias.

  12. Vistos como fanáticos, sem tradição, e tendo poucas ligações históricas com a Alemanha, não eram vistos como tendo algo valioso a oferecer ao Partido e à sociedade.

  13. Ignorados, a princípio, por razões práticas, e sem poder de barganha, para garantir sua sobrevivência precisariam eventualmente adotar uma das três possibilidades, ou algum nível de combinação entre elas:
    (1) ganhar o favor do Partido através de eventuais simpatizantes no governo,
    (2) operar às ocultas
    (3) ou resistir a todo custo. (KING, 1982, p. 25)

  14. Ademais, devido à proteção legal relativamente inferior com que contavam, e ao fato de terem sua origem normalmente fora da Alemanha, muito cedo se tornaram alvo de suspeitas. (CONWAY, 1968, p. 196)

  15. Seja para as religiões majoritárias ou minoritárias, cedo o Partido organizou-se para dar atenção a esse campo. Afinal todas as igrejas haviam de algum modo falhado em eliminar da Alemanha a causa básica apontada por Hitler para todos os problemas alemães: os judeus.

  16. E haviam falhado nessa missão por um motivo: estavam divididos em sua lealdade.

  17. Apenas os que prestassem lealdade única à pessoa de Adolf Hitler como o messias salvador estariam aptos para a enorme tarefa de reconstruir a Alemanha. (CONWAY, 1968, p. 144)


  1. Para manter o controle sobre as religiões, o Partido aparelhou-se e adaptou seus mecanismos.

  2. Quando do desenvolvimento do Partido Nazista, Hitler valeu-se não só da ideologia para conquistar sua ascensão, mas também da força.

  3. Inicialmente foram criadas as já mencionadas Divisões de Assalto, as Sturmabteilung, abreviado para SA, também conhecidos como “camisas-pardas”.

  4. Não se tratava de uma organização militar propriamente, mas de uma milícia que espalhava terror entre os opositores do partido, por meio de espancamentos, tortura e morte.

  5. Era composta por arruaceiros e desempregados, sendo que esses últimos não faltavam na época.

  6. Seu cofundador era Ernst Röhm, que prestou seu apoio a Hitler desde o putsch da cervejaria.

  7. A SA perseguiu ferozmente as Testemunhas de Jeová.

  8. Conforme mencionado, porém, a SA era um grupo semi-independente, e que nem sempre correspondia aos ideais de Hitler.

  9. Ele não deixara de utilizá-los à medida em que as ações do grupo favoreciam sua ascensão, mas tinha consciência de que eram “um bando de combatentes rudes”. (EVANS, 2011, p. 599)

  10. O líder da SA, Röhm, não era um político hábil, e contava com muitos inimigos importantes, como Himmler, Goebbels e Göring, todos muito próximos de Hitler.

  11. A homossexualidade de Röhm era constantemente trazida ao debate. Embora Hitler inicialmente não desse grande importância à vida privada de Röhm, a situação mudou à medida em que ficou claro para ele que Röhm tinha sua própria agenda, discordando publicamente de Hitler em várias ocasiões, além dos boatos de que Röhm estaria planejando um golpe.

  12. Himmler, então comandante de um grupo menor, a SS, que era uma subdivisão da SA via no embate entre Hitler e Röhm uma oportunidade para sua projeção, reforçou esses boatos.

  13. Não se sabe até que ponto Hitler foi influenciado pelas manobras de Himmler, a o fato é que Hitler pessoalmente declarou a Röhm que ele estava preso, e, posteriormente ordenou sua execução na prisão, na ‘Noite das Facas Longas’, em 1o de julho de 1934.

  14. Segundo Evans ocorreram 85 assassinatos sem julgamento e mais de mil prisões nessa noite. (2011, p. 59)

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CRISTIANISMO: APOIO INCONDICIONAL A HITLER


  1. Como consequência, as fileiras das SA diminuíram rapidamente, e as SS (Schutzstaffel – tropas de proteção) rapidamente assumiram todas as suas funções.

  2. Diferentes das SA, os membros das SS seguiam o padrão estabelecido por seu líder Himmler.

  3. As SS eram consideradas uma tropa de elite e a pureza racial era um dos requisitos para a admissão em suas fileiras.

  4. Seu lema era “Minha honra chama-se lealdade”, e tornou-se passagem obrigatória de todas as vias de acesso ao poder, infiltrando-se e com o tempo controlando outras instituições, entre elas a Gestapo (Geheime Staatspolizei, Polícia Secreta do Estado), comandada por Heinrich Müller e a SD (Sicherheitsdienst, Serviço de Segurança), sob o comando de Reinhard Heydrich. (FEST, 2005b, p. 556)

  5. Tanto a Gestapo como a SD dedicaram muitos esforços na repressão das seitas minoritárias, em particular às Testemunhas de Jeová, usando vários métodos, conforme será relatado adiante.

  6. Além dessas, o partido nazista estabeleceu também outras organizações com o intuito de específico de inculcar a doutrina e treinar a população jovem.

  7. Hitler não acreditava na eficiência do sistema educacional da Alemanha. Por isso, a partir de 1933, unificou a direção das escolas no Ministro da Educação do Reich.

  8. Os currículos foram alterados para adequarem aos princípios nazistas. Todos os professores, da educação infantil até a universidade, foram treinados e eram obrigados a jurarem obediência a Hitler e a associarem-se ao Partido. Os recalcitrantes eram demitidos.

  9. E educação dos jovens continuava fora da escola, na organização dos Jovens Hitleristas. Insipiente nos anos iniciais do partido, atingindo cerca de 100.000 jovens até 1932, seu número aumentou explosivamente para 2.300.000 em 1933, após a posse de Hitler como chanceler.

  10. Grande parte desse número veio com a incorporação de outros grupos de jovens, como o Grupo da Juventude Evangélica, protestante, de 700.000 membros e o Movimento de Fé dos Cristãos Alemães, e, mas adiante, da Associação da Juventude Católica.

  11. O responsável perante Hitler pelo treinamento dos jovens era Baldur von Schirach, que aderira o nazismo aos 18 anos, e é descrito por Shirer como um “tolo jovem de vinte e nove anos, que escreveu versos sentimentais em louvor a Hitler (“esse gênio que toca as estrelas”) e seguiu Rosenberg no seu estrambólico paganismo, e Streicher em seu antissemitismo virulento e se convertera em ditador da juventude do Terceiro Reich.” (SHIRER, 1962, p. 377)

  12. Julius Streicher foi o fundador e editor do tabloide sensacionalista Der Stürmer (O Atacante) caracterizado por manchetes berrantes e fortes ataques aos judeus, com caricaturas racistas e histórias fabricadas sobre assassinatos rituais e perversões sexuais. Por seu caráter promíscuo, era visto com repugnância até por outros membro do Partido. O antissemitismo de Streicher, porém, agradava a Hitler (EVANS, 2010, p. 245)

  13. A educação nas doutrinas nazistas começava aos seis anos para os rapazes, quando ele recebia um livro no qual seu progresso de aprendizado era anotado. Aos dez anos, depois de vários testes de atletismo e acampamentos, ele prestava o seguinte juramento:

  14. Diante desta bandeira de sangue, que representa nosso Führer, juro devotar todas as minhas energias e forças ao salvador de nossa pátria, Adolf Hitler. 
  15. Estou disposto a dar minha vida por ele, com a ajuda de Deus.

  16. Dos quatorze aos dezoitos anos, os jovens deveriam participar da Juventude Hitlerista (Hitlerjugend), que para todos os fins era uma organização paramilitar, na qual os jovens recebiam treinamentos sistemáticos em ideologia nazista, esportes e ações militares.

  17. Nos fins de 1938, a Juventude Hitlerista somaria quase 8 milhões de membros e a participação se tornou obrigatória em 1939.

  18. Os que se sobressaiam eram escolhidos para as universidades, serviço público e postos de direção no Partido.

  19. As moças constituíam a União das Jovens Alemãs (Bund Deutcher Mädel), na qual o treinamento enfatizava principalmente seu papel no Terceiro Reich: serem mães sadias de filhos sadios. (SHIRER, 1962, p. 378)

  20. Os membros da Juventude Hitlerista contribuíam com frequência com a SA, Gestapo e SS na delação de quaisquer ações consideradas suspeitas, inclusive de seus pais, ou em manifestações públicas e desfiles. (CONWAY, 1968, p. 127), (MAZOWER, 2013, p. 365)

  21. Depois dessa consideração sobre a ideologia nazista no que se referia à religião, bem como sobre seu aparelhamento para lidar com o que consideraria ameaças causadas por motivações religiosas, é interessante para esta análise verificar também como as principais religiões buscaram estratégias para a manutenção de seus preceitos, ou, no pior caso, para sua sobrevivência.


















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