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ANTROPOLOGIA








ÍNDICE


5Conceitos e métodos






INTRODUÇÃO
A antropologia (do grego ἄνθρωπος, anthropos, "ser humano"; e λόγος, logos, "razão", "pensamento", "discurso", "estudo") é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o ser humano e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões.[1]
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CIÊNCIA, ESTUDO, METODOLOGIA
     não é do conceito para o objeto
     mas do objeto pesquisado para o conceito
SER HUMANO
     não o aspecto biológico, animal
     não o aspecto físico ou espiritual
     não o sociológico ou psicológico-psiquiátrico
     mas o ser que existe, e como existe
TODAS AS DIMENSÕES DO EXISTIR
     tudo que faz o ser humano ser mais que um animal
     tudo que o faz ser racional diante da existência
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DIVISÃO E CAMPO
A divisão clássica da antropologia 
     reconhecimento universal dos antropólogos
distingue a antropologia cultural 
     ser humano e seu jeito de ser e existir
          a partir da influência social
da antropologia física (ou biológica), 
     ser humano e seu jeito de ser e existir
          a partir de seus limites físicos e biológicos


já a divisão norte-americana, conhecida como Four Fields ("quatro campos"), divide a antropologia em...
     vivência humana influenciada pelo passado
     vivência humana influenciada pela comunicação
antropologia física 
     vivência humana influenciada pelo meio ambiente
e antropologia cultural.[2] 
     vivência humana influenciada pelo meio social
Cada uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento.




Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características físicas do ser humano. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações das propriedades físicas do ser humano.




A antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as populações socialmente e devidamente organizadas. 
CAMPO DE INVESTIGAÇÃO
todo território com vestígios humanos
     todos cantos da terra, lua, marte, etc.
todo tempo com vestígios humanos
     criacionismo...  desde Adão criado
     evolucionismo... desde o primeiro ancestral humano
tudo que tenha algum vestígio humano
     coisas na terra, oceanos e no espaço


Divide-se em duas grandes áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a antropologia física (ou biológica) e a antropologia cultural, para alguns autores sinônimo de antropologia social, que focaliza, talvez, o principal conceito desta ciência, a cultura. Segundo o Museu de Antropologia Cultural da Universidade de Minnesota, a antropologia cultural abrange três tópicos gerais que por sua vez subdivide-se e constituem-se como especialidades: etnografia / etnologia, linguística aplicada à antropologia e arqueologia
ANTROPOLOGIA FÍSICA - BIOLÓGICA
ANTROPOLOGIA CULTURAL - SOCIAL
     etnografia / etnologia = fatos e documentos
     linguística = linguagem
     arqueologia = culturas


A cultura e a mitologia correspondem ao desejo do ser humano de conhecer a sua origem, ou produzem um modo de autoconhecimento que é a identidade, diferenciando os grupos em função de suas idiossincrasias e adaptação em ambientes distintos.



Divisões e campo

A divisão clássica da antropologia distingue a antropologia cultural da antropologia física (ou biológica), já a divisão norte-americana, conhecida como Four Fields ("quatro campos"), divide a antropologia em arqueologia, linguística, antropologia física e antropologia cultural.[2] Cada uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento.
Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características físicas do ser humano. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações das propriedades físicas do ser humano.


A antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as populações socialmente e devidamente organizadas. Divide-se em duas grandes áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a antropologia física (ou biológica) e a antropologia cultural, para alguns autores sinônimo de antropologia social, que focaliza, talvez, o principal conceito desta ciência, a cultura. Segundo o Museu de Antropologia Cultural da Universidade de Minnesota, a antropologia cultural abrange três tópicos gerais que por sua vez subdivide-se e constituem-se como especialidades: etnografia / etnologia, linguística aplicada à antropologia e arqueologia. A cultura e a mitologia (eu colocaria também a religião) correspondem ao desejo do ser humano de conhecer a sua origem, ou produzem um modo de autoconhecimento que é a identidade, diferenciando os grupos em função de suas idiossincrasias e adaptação em ambientes distintos.



Considerações

Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, política, economia, arte, entre outros tópicos. Embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antiguidade Clássica, a antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da grande revolução cultural iniciada com o iluminismo.
História




  1. Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia se tenha definido enquanto disciplina só depois da revolução iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. 

  2. Enquanto o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre sua relação com o "outro", pensou antropologicamente. 

  3. A Antropologia é o estudo do ser humano como ser biológico, social e cultural. 

  4. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como
    >>> a “antropologia física ou biológica” (aspectos genéticos e biológicos do ser humano),
    >>> “antropologia social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais),
    >>> “antropologia cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento)
    >>> e “arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos). 

  5. Além disso podemos utilizar termos como antropologia, etnologia e etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.



  1. Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss, a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. 

  2. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia, “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.[3] 

  3. Qualquer que seja a definição adotada, é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural,

  4. isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”;

  5. uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.




Primórdios

  1. Homero, Hesíodo e os filósofos pré-socráticos já se questionavam a respeito do impacto das relações sociais sobre o comportamento humano;
    (1) ou vendo este impacto como consequência dos caprichos dos deuses, como enumera a Odisseia de Homero e a Teogonia de Hesíodo,
    (2) ou como construções racionais, valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia a dia da experiência humana, como preferiam os filósofos pré-socráticos.

  2. Foi, sem dúvida, na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo.

  3. Os gregos deixaram inúmeros registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos.

  4. Nestes textos nascia, por assim dizer, a antropologia, e no século V a.C. um exemplo disto se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava.

  5. Da contribuição grega fazem parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e as de Xenofonte (a respeito da Índia).




  1. Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, que tentou investigar as origens da religião, das artes e se ocupou da discurso.

  2. Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos germânicas, baseando-se nos relatos dos soldados e viajantes.

  3. Salienta o vigor dos germanos em contraste com os romanos da sua época.

  4. Agostinho de Hipona, um dos pilares teológicos do catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas "pagãs", vistas como moralmente inferiores às sociedades cristianizadas.

  5. Em sua obra já discutia, de maneira pouco elaborada, a possibilidade do "tabu do incesto" funcionar como norma social, garantia da coesão da sociedade.

  6. É importante salientar que Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.

  7. Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico participou das discussões da filosofia, ao longo dos séculos.

  8. Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional, aplicado ao estudo da experiência humana, como fez o administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses tinham em administrar esses povos.

  9. Com o advento do movimento iluminista, este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos: a antropologia física (ou biológica), de modo geral considerada ciência natural, e a antropologia cultural, classificada como ciência social.



O século XVIII

  1. Até o século XVIII, o saber antropológico esteve presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua condição humana, cultivavam seus hábitos, normas, características, interpretavam os seus mitos, os seus rituais, a sua linguagem.

  2. Só no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Carlos Lineu e tendo como objeto a análise das "raças humanas".ap[4]

  3. O legado desta época foram os textos que descreviam as terras (a fauna, a flora, a topografia) e os povos "descobertos" (hábitos e crenças).

  4. Algumas obras que falavam dos indígenas brasileiros, por exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de Caminha ("Carta do Descobrimento do Brasil"), os relatos de Hans Staden, "Duas Viagens ao Brasil", os registros de Jean de Léry, a "Viagem a Terra do Brasil", e a obra de Jean-Baptiste Debret, a "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.

  5. Além destas, outras obras falavam ainda das terras recém-descobertas, como a carta de Cristóvão Colombo aos Reis Católicos.

  6. Toda esta produção escrita levantou uma grande polémica acerca dos indígenas.

  7. A contribuição dos missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada "teoria do bom selvagem", que via os índios como detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser assimilado pelos ocidentais.

  8. Esta teoria defendia a ideia de que cultura mais próxima do estado "natural" serviria de remédio aos males da civilização.



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o ser humano e suas muitas dimensões


O século XIX

  1. No século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem pré-histórico para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante remota.

  2. Posteriormente, em 1865, John Lubbock reavaliou numerosos dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico

  3. Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859, e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista.

  4. Partindo da discussão trazida à tona por estes pesquisadores, nascia a antropologia física ou biológica. 

  5. Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do século XIX privilegiou o darwinismo social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos".

  6. Esta visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos.[5]

  7. Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo.

  8. É a visão etnocêntrica, o conceito europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos como os das ilhas da Oceania, estavam "situados fora da história e da cultura".

  9. Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.





Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes obras da antropologia consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não europeias como o primitivo, o antecessor do homem civilizado: afirmando e qualificando o saber antropológico como disciplina, centrando o debate no modo como as formas mais simples de organização social teriam evoluído, de acordo com essa linha teórica essas sociedades caminhariam para formas mais complexas como as da sociedade europeia.

Nesta forma de apreender a experiência humana, todas as sociedades, mesmo as desconhecidas, progrediriam em ritmos diferentes, seguindo uma linha evolutiva. Isso balizou a ideia de que a demanda colonial seria "civilizatória", pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso tecnológico-científico" das sociedades tidas como "civilizadas".[6] Há que ver estes equívocos como parte da visão de mundo que pretendiam estabelecer as diretrizes de uma lei universal de desenvolvimento.

Mas não se pode generalizar e atribuir as características acima a todos os autores que se aparentaram a essa corrente. Durkheim, por exemplo, procurou nas manifestações totêmicas dos nativos australianos a forma mais simples e elementar de religiosidade, mas não com o pensamento enquadrado numa linha evolutiva cega: se nossa sociedade era dita mais complexa, ele atribuía isso às diversas tendências da modernidade de que somos fruto, e a dificuldade de determinar uma tendência pura na nossa religião, escamoteada por milhares de anos de teologia.[7]

O método concentrava-se numa incansável comparação de dados, retirados das sociedades e de seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador, dados que lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução.[8] Entendiam os evolucionistas que os costumes se demarcavam como substância, como finalidade, origem, individualidade e não como um elemento do tecido social, interdependente de seu contexto.[5]

Vale ressaltar que apesar da maior parte dos evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, tais como Edward Tylor e James Frazer um dos mais conhecidos pensadores dessa corrente, Lewis Henry Morgan, tinha contato com diversas tribos do norte dos Estados Unidos.[8] Seria exagerado creditar a autores dessa corrente compilações cega das culturas humanas, isso seria uma simplificação enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses estudos clássicos da antropologia.

A antropologia difusionista reagiu ao evolucionismo e foi sua contemporânea. Valorizava a compreensão natural da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica", tal como defendia Adolf Bastian e outros intelectuais como Friedrich Ratzel, Grafton Elliot Smith, William James Perry, William H. R. Rivers, Fritz Graebner e Fr. Wilhelm Schmidt, fundador da revista Anthropos.

Com Émile Durkheim começam os fenômenos sociais a serem definidos como objetos de investigação sócio-antropológica e, a partir da análise da publicação do livro As Regras do Método Sociológico, em 1895, começa-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então. No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas representações primitivas, estudo que culminará na obra "Algumas formas primitivas de classificação", publicada em 1901 e, mais tarde, no livro As formas elementares da vida religiosa, publicado em 1912. Inaugura-se então a denominada "linhagem francesa" na Antropologia.[9]


O século XX
Marcel Mauss

Inicialmente centrada na denominada "Etnologia", a Antropologia Francesa arranca, como disciplina de ensino, no Instituto de Etnologia do Museu do Homem, em Paris, a partir de 1927. No início, a disciplina se vinculara ao Museu de História Natural, porque se considerava a antropologia como uma subdisciplina da História Natural.[9]

O grupo de Durkheim visava constituir uma ciência propriamente social. O debate francês se inspira sobre a tradicional questão de saber como ocorre o processo de diferenciação social nas sociedades industriais no contexto de organização das sociedades nacionais e das instituições republicanas,[10] questão que recebeu inúmeros desdobramentos nas obras de Marcel Mauss - que publica com Henri Hubert, em 1903, a obra Esboço de uma teoria geral da magia, na qual forja o conceito de mana - Denise Paulme, Germaine Tillion, Germaine Dieterlen, Lucien Lévy-Bruhl, Marcel Griaule, Maurice Leenhardt e Michel Leiris.
Franz Boas. Museu Nacional de História Nacional, exibição "Hamats'a coming out of secret room" (data estimada: 1895)

Já nos Estados Unidos, Franz Boas desenvolve a ideia de que cada cultura tem uma história particular e considerava que a difusão de traços culturais acontecia em toda parte, em várias direções.[11] A antropologia estende a investigação ao trabalho de campo, por meio da qual estuda-se a cultura em seus próprios termos. Surgia o culturalismo, também conhecido como "particularismo histórico", rejeitando, de maneira marcante, o evolucionismo que dominou a Antropologia na segunda metade do século XIX. Consolida-se o conceito de relativismo cultural (ver também Alfred Louis Kroeber, C. Wissler e Robert Lowie).[6]

Deste movimento surgiria posteriormente a escola antropológica da Cultura e Personalidade. Criada por discípulos de Boas, influenciadas pela Psicanálise e pela obra de Nietzsche, esta vertente teórica concebe a cultura como detentora de uma "Personalidade de base", partilhada por todos os membros. Busca-se, assim, estabelecer uma tipologia cultural, como, por exemplo, classificando as culturas como dionisíacas (centradas no êxtase) e apolíneas (estruturadas no desejo de moderação), ou ainda como pré-figurativas, pós-figurativas, cofigurativas. Destacam-se as obras de Ruth Benedict,[12][13] Margaret Mead,[14] Gregory Bateson[15] e Ralph Linton.

Paralelamente a estes movimentos, na Inglaterra nascia com Bronislaw Malinowski o funcionalismo, que enfatizava o trabalho de campo (observação participante) - base para a etnografia, que envolve a elaboração desta produção intelectual - e postulava que o conhecimento acerca de uma cultura exige apreendê-la na sua totalidade. As instituições sociais ocupam o centro do debate, a partir das funções que exercem na manutenção da totalidade cultural. Sob inspiração na obra de Durkheim, advogava-se um estreito paralelismo entre as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e conservação) porque, em ambos os casos, a harmonia dependeria da interdependência funcional das partes. Alfred Radcliffe Brown, por sua vez, retoma os conceitos de estrutura e de função sob novo prisma, de modo a analisar as obrigações, as relações sociais. A ideia de que a função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental dentro de um sistema de relações sociais, ganhou diversos desdobramentos e críticas nos trabalhos de Audrey Richards, Edmund Leach, Evans-Pritchard,[16][17] Hilda Kuper, Lucy Mair, Max Glukman, Meyer Fortes, Raymond Firth e Victor Turner.[18]
Bronislaw Malinowski entre trobriandeses.

Uma inflexão no debate antropológico ocorreu especialmente na década de 1940, com Claude Lévi-Strauss, que passa a centrar o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentido.[19] Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da linguística, por Ferdinand de Saussure, denominado estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.
Claude Lévi-Strauss no Museu Nacional/Rio de Janeiro.

Para a Antropologia estrutural, as culturas definem-se como sistemas de signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto. Em 1949, Lévi-Strauss publica As estruturas elementares de parentesco, obra em que analisa os aborígines australianos e, em particular, os seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia, aliança, consanguinidade passam a fazer parte das preocupações etnográficas. Pode-se observar o desdobramento das reflexões estruturalistas nas obras de diversos antropólogos, como Françoise Héritier, Louis Dumont, Marshall Sahlins, Pierre Bourdieu, Pierre Clastres e Philipe Descola.

Clifford Geertz é provavelmente, depois de Lévi-Strauss, o antropólogo cujas ideias causaram maior impacto na segunda metade do século XX, não apenas no que se refere à própria teoria e à prática antropológica, mas também fora de sua área, em disciplinas como a psicologia, a história e a teoria literária. Considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea - a chamada antropologia interpretativa - defende o estudo de "quem as pessoas de determinada formação cultural acham que são, o que elas fazem e por que razões elas crêem que fazem o que fazem". Nesta vertente teórica, a cultura é analisada como hierarquia de significados e a etnografia envolve a elaboração de uma descrição densa, de interpretação escrita, cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica. É crucial a leitura da leitura que os "nativos" fazem de sua própria cultura. Uma das metáforas preferidas de Geertz, para definir o que fará a antropologia interpretativa, é a leitura das sociedades enquanto textos ou como análogas a textos. A interpretação ocorre em todos os momentos do estudo, da leitura do "texto", pleno de significado, que é a sociedade na escrita do texto/ensaio do antropólogo, por sua vez interpretado por aqueles que não passaram pelas experiências do autor do texto escrito. Todos os elementos da cultura analisada devem portanto ser entendidos à luz desta textualidade, imanente à realidade cultural.[20]

Na década de 1980, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas críticas a todas as vertentes surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas. No geral, este debate privilegiou algumas ideias: a primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor, portanto a antropologia seria uma interpretação de interpretações.[21] Da crítica das retóricas de autoridade clássicas, fortemente influenciada pelos estudos de Michel Foucault, surgem metaetnografias, ou seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito para esta discussão a formação de antropólogos nos países que então eram analisados apenas pelos grandes centros antropológicos.

A Antropologia pós-moderna privilegia a discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no modelo das etnografias. Politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica, questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o "nativo", e crítica os paradigmas teóricos e da "autoridade etnográfica" do antropólogo.[22] A pergunta essencial é: quem realmente fala na etnografia? O nativo? Ou o nativo visto pelo prisma do etnógrafo? A etnografia passa a ser desenvolvida como uma representação polifónica da polissemia cultural – e nela deveriam estar claramente presentes as vozes dos vários informantes. Denis Tedlock, George Marcus, James Clifford, Michel Fischer, Paul Rabinow, Renato Rosaldo e Vincent Crapanzano são alguns dos expoentes deste debate.

Outros movimentos significativos, na história do século XX, para a teoria antropológica foram as escolas Cognitiva, Simbólica e Marxista,[23] além das críticas feministas,[24] pós-coloniais e decoloniais. São inúmeras as colaborações, dentre as quais destacam-se os trabalhos de: Arturo Escobar, Bruno Latour, Donna Haraway, Frantz Fanon, Jean Comaroff, Johannes Fabian, John Comaroff, Marshall Sahlins, Marilyn Strathern, Michael Taussig, Sherry Ortner, Talal Asad e Tim Ingold.






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